A Onda - Em Busca das Gigantes do Oceano - Susan Casey(The Wave: In Pursuit of the Rogues, Freaks and Giants of the Ocean trad. Ivo Koritowsky)
Nunca pegaria esse livro para ver a capa em uma livraria.
Mas ele me foi emprestado por uma pessoa muito querida, com quem já troquei
vários livros, então resolvi dar uma chance, porque ela conhece meu gosto
literário.
Susan Casey é uma jornalista canadense que resolve aprender tudo
sobre ondas gigantes. Ondas gigantes mesmo, que passam dos 20, 25, 30m de
altura - tipo um prédio de dez andares. Seu principal ponto de vista é construído a partir dos encontros e
viagens que tem com os surfistas de ondas gigantes pioneiros, em especial Laird
Hamilton.
Essa modalidade de surf é relativamente recente. Como é
muito complicado ir nadando até chegar em uma zona de ondas desse tamanho, eles
são rebocados até lá por jet skis (motos aquáticas). É o surf tow-in. É um esporte radical. Cair de
uma onda gigante pode significar desde ossos quebrados até a morte, seja pelo
impacto ou por afogamento. Para se ter uma ideia, os surfistas usam um colete
especial de kevlar, uma espécie de colete à prova de balas, para minimizar os danos de
um eventual impacto.
Além de surfistas e do meio desse esporte (cinegrafistas,
meteorologistas e fotógrafos), Casey conversa também com cientistas da área.
Ela chega a ir a um congresso de estudiosos de ondas gigantes. Desse encontro
vale destacar a imprevisibilidade do fenômeno; não existe equação capaz de
prever o tamanho de uma onda. Não é possível controlar todos os fatores para se
analisar cientificamente uma onda gigante. Como todo estudo científico se baseia
justamente nisso, no controle de todas as variáveis para analisar uma outra, as
ondas gigantes escapam à ciência como
método. Apesar disso, sabe-se que alguns fatores contribuem para sua gênese,
que são o relevo submarino, os ventos e as tempestades e os movimentos das
placas tectônicas.
Até pouco tempo
atrás, não sobrava muita gente para dar seus testemunhos sobre essas ondas. Os registros
até os anos 80 dão conta de ondas de até 25m, e, como as equações não preveem as
ondas gigantes, medições eventuais acima desse nível eram consideradas erros, e
descartadas dos estudos. Mas com o avanço da tecnologia de medição e da
expansão da exploração de petróleo em alto mar, esses estudos foram ganhando
precisão (navegar é preciso) e o campo de pesquisa cresceu em importância.
Um dado estarrecedor: toda semana desaparecem no mar, em média, dois graneleiros (navios grandes que transportam
commodities). Há ondas gigantes que partem esses navios, muitas vezes sem
deixar vestígios. E que se as commodities estão em alta, mais aumenta esse
risco, pois mais navios e tripulações despreparados são lançados ao mar.
As duas perspectivas, de quem lida com o mar a partir de
grandes navios de transporte e de quem quer surfar as ondas, apesar de
parecerem tão distantes quanto prazer e trabalho, têm um ponto de convergência:
o tamanho das ondas faz tanto marinheiros como surfistas experientes se sentirem
humildes. No nosso dia-a-dia urbano não percebemos o quanto dependemos de
navios que trafegam por águas furiosas, nem nos deparamos tão espetacularmente com uma força de uma natureza capaz de nos esmagar. O relato envolvente
de Casey sobre as gigantes do oceano é, em uma palavra, uma lição de humildade.