O Mago (The
Magus) – John Fowles
Conheci esse livro excelente no perfil @charleslangip no
instagram, um camarada que lê muito e posta vídeos curtos falando sobre os livros.
Este é um dos favoritos dele. A história se passa nos anos 1950, e o narrador-personagem,
Nicholas Urfe, é um jovem inglês meio sem rumo, meio macho escroto que vai trabalhar
como professor de inglês em um colégio interno numa ilha na Grécia.
Nos primeiros capítulos ele conta parte da sua vida até
então, fala de suas escolhas ruins, da família meio disfuncional, de encontros
amorosos desastrados pela própria toxicidade. Quando eu achei que o livro seria
sobre as desventuras de um macho escroto anti-herói, quase um apanhador no
campo de centeio, eis que um capítulo termina com a seguinte frase “e então
começaram os mistérios”.
Essa foi a primeira de muitas inflexões na trama. Difícil
comentar essas inflexões sem dar spoiler, mas muitas vezes achei que o livro ia
mudar de assunto completamente. Umas vezes acertei, outras não.
Os tais “mistérios” aparecem quando Nicholas encontra um tal
senhor Komchis, um milionário excêntrico, dono de uma propriedade isolada em
uma parte isolada da ilha. A partir daí surge uma série de jogos psicológicos
que compõem as reviravoltas da trama.
Mas mais do que isso, o livro é muito bem escrito, os
personagens psicologicamente complexos, sendo revelados aos poucos, em camadas,
com suas contradições e angústias muito bem colocadas.
O livro virou filme nos anos 60, com Michael Caine no papel
de Nicholas e, sempre ele, Anthony Quinn como Komchis. Não vi, deve ser bom,
mas duvido que seja melhor do que o livro, não só porque isso raramente
acontece com qualquer livro, mas acho difícil que tenha sido possível traduzir
em imagens toda a complexidade dos personagens, das relações etc. Mas deve ter
ficado bonito se foi mesmo filmado em uma ilha na Grécia, rs.
Li que o próprio Fowles entendia o romance como uma espécie
de desenho de Rorschach, aquele teste psicológico em que são mostradas manchas
meio amorfas e cabe ao espectador (no caso, o leitor) concluir qual a forma
daquele borrão. Não sei se concordo com essa comparação, pois os personagens
são bem mostrados, com muitas zonas veladas ou pouco explícitas, é verdade, mas eles estão
lá, e as relações estão colocadas. O final tem alguns pontos abertos, que não
chegam incomodar porque o livro é em primeira pessoa, então ok não cobrir todas as perspectivas. Mas não é um livro com “final aberto”.
Este é um bom romance pós-moderno, onde os personagens têm
camadas realistas, a trama traz inflexões pouco verossímeis porém realistas, com
jogos psicológicos que prendem o leitor, chamando a curiosidade sem cair na
trilha comum de livros de mistério. Recomendo!